sexta-feira, 7 de junho de 2013

Aprendizagem condicionada: vilã ou mocinha?

Hoje vou abordar a tese de doutorado da Agostinha Mariana C. Almeida, aluna da USP. "Complexidade de associações de estímulos condicionais de "occasion setting" do contexto do uso de droga, com abstinentes de cocaína: Uma interface entre o laboratório e a clínica" é o tema da tese que, a principio, nos parece distante daqueles que não são da área de psicologia, mas, no decorrer da tese, percebemos que é um tema altamente dinâmico e realista, que nos esclarece muito sobre o contexto da adicção e sua formação pelo processo de aprendizagem condicionada.

A autora foca seu estudo em pacientes abstinentes de cocaína, todos do sexo masculino e com idade variando entre 24 e 40 anos. Seu estudo de caso se dá através de entrevistas semi-estruturadas, nas quais o entrevistado tem grande participação e abertura para falar, o que facilita a descoberta dos meios de associações condicionadas dos adictos. O cerne da tese está na complexidade da associação dos estímulos internos e externos do contexto da droga com as representações dadas aos efeitos da droga relatadas subjetivamente pelos adictos.

Parece complicado, mas não é tanto assim. A aprendizagem condicionada possui uma relação entre esforço, recompensa ou castigo. No contexto da droga, a autora traz os estímulos externos e internos (como festas, amigos, dinheiro, fim-de-semana, emoção e percepção) como agente incentivador do uso de drogas, e assim do "occassion setting", que seriam as representações dadas aos efeitos da droga, no contexto da droga, pelos adictos. 

"Um estímulo pode sinalizar a vinda da droga, atuando como excitatório ou inibitório, depende das associações de representações que são sinalizadas." (ALMEIDA, 2008), tal afirmação nos abre uma série de possibilidades que explicariam tanto o inicio da adicção, como o possível tratamento dela. Como assim? A causa pode ser a solução? Sim!! Como o adicto consegue estabelecer associações positivas entre algum fator externo e os efeitos da droga, este, na teoria, também conseguiria associar coisas negativas aos efeitos da droga. Da mesma forma que ele associa festa com o efeito estimulante da cocaína, ele, através da aprendizagem condicionada, pode inibir tal associação retirando o "occasion setter" que seria o fato dele só se divertir na festa com a cocaína, e pensando que sem a cocaína ele está melhor, garotas se interessam por ele e a vida está boa.

Pensando nesta possibilidade de tratamento, podemos ampliar o panorama para inúmeras situações e não só a adicção das drogas. Por exemplo, um homem que possui uma associação condicionada que depois do sexo é sempre gostoso fumar um cigarrinho, pode, através da aprendizagem condicionada também inibir este vício.

A aprendizagem condicionada é algo praticamente inerente ao ser humano em sociedade, pois é através de estímulos externos que ele relacionará uma coisa a outra, podendo esta relação ser positiva ou negativa. E vocês? Já pensaram em algum comportamento que vocês realizam através da aprendizagem condicionada? Será possível inverter este comportamento através da própria associação condicionada? Não deixe de comentar! E até a próxima!

Bibliografia: Almeida, A.M.C. (2008) Complexidade de associações de estímulos condicionais de occasion setting do contexto do uso de droga com abstinentes de cocaína: uma interface entre o laboratório e a clínica. Universidade de São Paulo: tese de doutorado.

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