sexta-feira, 3 de maio de 2013

A sinestesia de S.

Como disse no último post, vamos entrar no universo do paciente de Luria, o S., e buscar compreender a vida de alguém que possui uma memória sem limites!

Para entender melhor o S., devemos primeiro estudar seus métodos de associação. Nada padrão, sua forma de memorização espantava as pessoas aos seu redor; primeiramente por nunca falhar e em segundo lugar pela forma em que ele armazenava as informações.

S. conseguia associar cores, formas, texturas, histórias e cheiros às palavras. Este tipo de correlação entre os sentidos se chama sinestesia, muitas pessoas a tem, mas não em quantidade significativa. Apenas em um nível bem primário, associando uma cor à uma letra específica, ou um cheiro à uma palavra; mas pessoas como S., com um ligamento tão direto e natural entre os sentidos, são raras exceções.

Suas associações muitas (todas as) vezes não faziam sentido para quem o observava. Mas não havia explicação... Ele simplesmente ouvia sons ao ver figuras!! Dizia coisas como "que voz amarelada, esfarelada você tem!" ou então, como conta em seu relato:
 "... Por algum motivo a palavra mutter [em iídiche, "mãe] produz a imagem de um saco marrom-escuro com dobras, pendurado em posição vertical. Foi o que eu vi quando escutei pela primeira vez a palavra.[...]" (LURIA, pg 76)
Depois de um teste de repetição elaborado por Luria, o pesquisador perguntou ao S. como (COMO?!!) ele conseguia guardar tantas informações em tão pouco tempo. O paciente contou que ele ia dispondo as palavras que ouvia no caminho (mental) para a casa, como se fossem algo palpável, objetos. Assim, quando Luria perguntava algum item especifico das palavras listadas, S. sabia que havia "deixado" aquela palavra perto da caixa de correio da casa vizinha a sua, por exemplo.

Conforme os estudos foram avançando, Luria começou a se questionar da origem desta sinestesia. Será que era algo inato ou S. construiu com a vida? Seria a sinestesia uma habilidade ou uma patologia?

Em uma descrição de uma memória sua, S. fez com que Luria (e nós, leitores) duvidasse cada vez mais da onde sua sinestesia havia começado. "...Eu era muito pequeno então... talvez nem tivesse um ano... O que me vem à cabeça mais claramente é a mobília do quarto (...). Um berço é uma cama pequena com barras de ambos os lados, com peças de vime arqueadas na parte de baixo e que balança... Lembro-me que o papel de parede do quarto era marrom, e a cama branca..."

Tais memórias desafiam o próprio estudo da medicina! Como S. conseguia ter lembranças tão detalhadas de formas e cores se, quando neném, o homem só enxerga sombras (sem cor ou forma)?? Será que S. realmente lembrou ou imaginou, viu em alguma fotografia ou sonho?

Luria nos deixa com estas questões a todo vapor! Espero poder resolvê-las ou pelo menos aceitar alguma hipótese de como uma memória tão extraordinária como essa pode existir! Até o próximo post!!

Este vídeo (http://vimeo.com/25076605) é muito legal, fácil e dinâmico para quem quiser aprender mais sobre a sinestesia (e aprimorar seu lado poliglota, pois o vídeo está em espanhol)!

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